Atualmente, estou mais absorvendo conhecimento do que compartilhando. Tenho oscilações entre compartilhar e absorver, e isso muda periodicamente. Sempre que estou numa época “absorvedora”, sinto dificuldade em explicar as coisas para as pessoas. É como se, o que eu fosse explicar fosse impreciso, pois eu sei que ainda não cheguei ao fundo daquele assunto. Isso se chama perfeccionismo: a exigência de si mesmo em criar algo perfeito e final. Sinto que minha vontade em criar está muito ligada a essa minha característica. Isso acaba gerando muitos transtornos.
Explicarei.
Tenho diversas idéias sobre tudo o que leio e entro em contato; tenho vontade em compartilhar isso com o mundo, mas não queria que isso se tornasse obsoleto com a passagem do tempo. Gostaria que o que eu dissesse fosse permanente, ou que pelo menos durasse por muitos e muitos anos, até mesmo ultrapassasse meu tempo em vida. Isso, é claro, acaba gerando em mim mesmo uma responsabilidade gigantesca em criar um conteúdo único, belo, significativo e praticamente eterno – inalterável e livre de críticas. Obviamente que isso gera muito stress, pois eu acabo não compartilhando aquilo que sei, somente armazenando em minha fraca memória RAM mental para uma época futura, em que eu tenho esperanças de juntar todos esses pedaços em um grande bolo de sabedoria, côngruo e coerente.
Isso é totalmente estúpido.
O que ocorre a todo momento no mundo todo? Mudanças. Tudo muda o tempo todo, em todos os planos. As leis, as culturas, as pessoas, a natureza, o Universo, as idéias, as formas de se viver… tudo está em movimento.
Tentar armazenar tudo o que se passa o tempo todo para somente depois compartilhar minha visão com o mundo demanda esforços que ainda não estou apto a fazer. Minha memória é curta; as inspirações têm curta duração e o conhecimento humano está constantemente em mudança.
Se eu não aplicar aquilo que me inspira (quase) instantaneamente, com certeza esquecerei em pouquíssimo tempo. As próprias idéias inspirativas não duram muito tempo, por causa de sua própria natureza volátil e frágil. Elas vêm de um lugar tênue, “fino” e “leve” que, justamente por possuir uma consistência “fofa” e dissipativa, muito semelhante a uma nuvem, desaparecem da minha concentração num piscar de olhos.
Se os fatores acima não derem o golpe de misericórdia na pobre idéia recém-adquirida, há a constante mudança do conhecimento. Se a idéia que surgiu não for resistente a mudanças, provavelmente se tornará desatualizada ou sem sentido com a simples passagem do tempo.
Então, fica notória a consequência de se ser perfeccionista pela concretização de uma idéia criativa: as idéias nascem, vivem pouco e morrem, sem nem terem tido a chance de outras pessoas a terem visualizado. Quero deixar bem claro que estou pouco a pouco cortando essa característica deplorável da minha lista de valores pessoais. É lógico que é bom proporcionar qualidade no trabalho que se faz, mas não a ponto de impedir a concretização das idéias criativas vindas do âmago do meu ser. Não posso esquecer de que tudo isso é só parte do processo de trazer ao mundo material (Assiah) as sublimes informações do mundo espiritual (Yetzirah), espalhando Luz e Consciência a todos os seres. Ao se priorizar perfeccionismo ao invés da doação, bloqueia-se o fluxo de Luz Criativa e, consequentemente, bloqueia-se tudo o que vem das Esferas Superiores.
O que devo, então, fazer?
Treinar-me para valorizar a contribuição constante de idéias ao invés do acúmulo de tesouros para uma ilusória futura contribuição única e perfeita.
Certamente é preciso aproveitar a inspiração antes que ela se vá, muitas vezes até anoto algumas frases e palavras-chave de inspirações que me ocorrem, mas se não escrevo sobre o assuno (mesmo que apenas desenvolvendo apenas para mim mesmo ler) em poucos dias, talvez duas semanas no máximo, quando retorno a essas anotações já sequer faço ideia do que exatamente pretendia fazer com elas 🙂
Acho que uma coisa que certamente funciona é tentar se manter num “fluxo de inspiração”, daí sim podemos escrever quase sempre sobre quase tudo que temos vontade, e inspirados de alguma forma… O problema é que, para viver assim, é preciso por os vícios do mundo de lado, é preciso viver no mundo sem ser do mundo, e isso é sempre complicado.
Abs
raph
CurtirCurtir
Sim, concordo com o que você disse. Eu estou me treinando para sempre concretizar minhas inspirações assim que elas "chegam", mas nem sempre isso é possível…
Uma coisa que eu realmente me cobro é a de escrever textos mais elaborados. Eu tenho uma tendência muito forte em simplificar – mania de matemáticos e físicos – e isso acaba jogando fora muita coisa boa que poderia ser compartilhada.
Há textos muito bonitos que leio em outros blogs e penso "porque eu nao escrevi sobre isso? tenho certeza que ja tive a mesma ideia antes!"
O desafio, para mim, está em ser prolixo e explicativo ao máximo.
Abs!
CurtirCurtir
Eu também tenho muita dificuldade em “materializar” minhas criatividade.
De tempos em tempos, surge um turbilhão de inspiração e idéias fantásticas, que simplesmente não consigo escrever/desenhar. E isso é muito frustrante.
Meu blog já morreu N vezes por conta dessa oscilação. Nesse exato momento tenho um arquivo doc que está aberto há 2 semanas pra terminar um texto concebido há mais de um ano. Mas no meu caso isso não está tão ligado ao perfeccionismo (embora às vezes esteja – meu ascendente em virgem está aí pra isso, hehe), mas a uma dificuldade de tirar essas imagens mentais do plano mental e trazê-lo pro material. Alguma idéia do que pode ajudar?
Excelente texto!
Abraços
CurtirCurtir