É bastante confortável criticar uma religião de um ponto de vista estratégico, seguro de suas verdades materialistas/científicas, totalmente isolado e separado do mundo religioso sobre a qual se critica. No entanto, é inteligente de nossa parte dar atenção a essas pessoas que buscam a aprovação de um público para suas críticas? É possível de se analisar uma religião objetivamente? É válido de se tirar conclusões de qualquer sistema sem antes estudá-lo e experimentá-lo em todos os seus pormenores?
Não.
Só é possível analisar uma religião criteriosamente se você se converter a ela; se você se tornar um verdadeiro adepto, se você participar dos rituais, crer no que aqueles fiéis crêem, aprofundar-se a ponto de realmente compreender todos os dogmas colocados nessa fé em particular, decifrá-la através da auto-experiência, mergulhando nela e vivenciando-a em seu ser completamente. Dai sim você fará justiça, pois você terá vivido e experimentado o que aquela religião realmente é, o que ela significa e qual o processo pessoal de transformação que ela proporciona a seus fiéis. Tudo aquilo se tornará claro para você. E, se aquela religião for boa, você passará a compreender outras religiões como formas válidas de caminhos para a ascensão do Verdadeiro Eu.
O problema é que, quando você chega nesse ponto, seu senso crítico, sua imparcialidade, seu método científico de avaliação não existe mais. Você bebeu daquela fonte, você se contaminou daquela fonte: é impossível não comprometer a sua pesquisa. Sim, pois a ciência, em seu aspecto mais profundo, é fria: não permite o envolvimento pessoal. Sempre se deve utilizar de um observador isolado do fenômeno para que realmente se possa dizer que o fenômeno é real e não uma ilusão; de que não é um engodo, de que o que acontece é verdadeiro.
Veja como a ciência se preocupa muito com isso, em se ter certeza de que algo é real e não ilusório, de que algo existe e não está na cabeça de uma pessoa em particular, mas sim que é algo “físico, mensurável por instrumentos e independe da sanidade das mentes ali presentes”, como se o que percebêssemos com nossos órgãos sensoriais e a realidade íntima e verdadeira do Universo fossem elementos isolados. Porém, é possível separar a experiência do observador? É realmente possível separar o Universo em dois pedaços: Universo A e Universo B?
Nossos sentidos nos mostram o mundo como ele é ou como imaginamos que ele seja? Nossa percepção é realmente 100% imparcial sobre aquilo que ela capta? Não. Nossa percepção é grandemente subjugada por nosso banco de dados armazenado na memória. Só vemos aquilo que já vimos antes; só percebemos coisas que possamos encaixar nos padrões que já percebemos anteriormente por algum de nossos sentidos. Nossa mente é quem faz toda a triagem, toda a classificação e análise sensorial, descartando o que não se encaixa com nosso banco de dados e adaptando e aceitando aquilo que se encaixa com o nosso passado perceptivo.
Isso pode nos levar a pensar que jamais iremos ver nada novo; que nunca iremos perceber algo que nunca vimos antes.
Sim e Não. Tudo depende da forma como encaramos a nova informação que chega pelos nossos sentidos. Se adotarmos uma postura de “quarentena mental”, então, realmente, estaremos fechados no nosso mundinho perceptivo. Dificilmente iremos perceber algo que foge dos nossos padrões pré-armazenados. Nós criaremos uma muralha mental, um “firewall”, por assim dizer, impedindo que novas conexões e novas informações sejam “baixadas” para o nosso HD.
Porém, se mantivermos algumas portas abertas nesse “firewall” mental, então, sim, teremos a oportunidade de cada vez mais perceber algo que nossos sentidos não conseguem classificar, mas que mesmo assim poderemos experimentar; algo novo, algo que não se encaixa nos padrões. Um som que se originou de lugar nenhum. Uma luz (ou uma sombra) que se enxerga mas não se sabe da onde vêm. Um cheiro estranho que parece não ter nenhuma origem nas proximidades. Etc, etc, etc. Nossa percepção começará a se alargar para tentar entender da onde vêm esses dados. Tudo o que temos de fazer é se permitir perceber. Deixar vir esses dados, e ir tentando decifrá-los. Se os bloquearmos, voltaremos a não percebê-los e eles se tornarão fenômenos isolados de “coisas esquisitas” e “causos da meia noite” que aconteceram conosco, nada além disso.
Mas, como provar para sua família e amigos o que está percebendo, mas não consegue explicar?
Você não vai conseguir provar. Pelo menos não para pessoas com “firewall perceptivo”. Você deverá procurar pessoas que tenham experiências parecidas com as suas, que percebam luzes, sons, cheiros, etc, que não parecem vir de nenhuma lugar específico ou que não tenha nenhuma base física em que se sustentar. Essas pessoas te ouvirão, saberão do que se trata e poderão te ajudar com o desenrolar desses novos sentidos que você está desenvolvendo.
Antes que qualquer pessoa pergunte: não, não tenho nenhum tipo de percepção expandida, ou mediunidade, como os espíritas se referem a essa faculdade, desenvolvidas. Acontece que já li bastante sobre o assunto e simplesmente intuí que seria um bom momento para tratá-lo aqui. Sendo a intuição também um tipo de mediunidade, a frase anterior não deixa de ser irônica 🙂
O que tudo isso tem a ver com as críticas da ciência acerca das experiências religiosas?
A idéia era demonstrar brevemente de que há certas áreas humanas, certas práticas, certas experiências que não são reproduzíveis em larga escala e que dependem totalmente da percepção subjetiva de cada pessoa envolvida em tal área humana, em tal prática ou experiência realizada. Portanto, do ponto de vista científico, essas questões sempre permanecerão em aberto, ou seja, insolucionáveis ou inadmissíveis como parte da realidade científica, até que a metodologia científica seja modificada para aumentar seus “óculos da realidade”, incluindo esses fenômenos específicos.
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Para complementar a leitura, recomendo a leitura do artigo A Ciência Moderna e sua Visão Estreita.
Crédito das fotos:
[1]: Associação Apostolado do Sagrado Coração de Jesus: Link da foto
[2]: Umbanda em Debate: Link da foto
[3]: SpiderPic: Link da foto
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