A Justiça e o julgamento de si mesmo

andurilSer alguém especial é sentir-se especial. Julgar-se especial. Inteiramente.

Quando se vê como alguém indigno, é porque você não se aceita. Porque há alguma coisa em você que lhe incomoda, talvez algum ato, algum hábito, alguma postura que faz com que se julgue alguém ruim.

O julgamento tem alguns símbolos muito interessantes.

A espada, por exemplo.

É uma arma que representa a justiça. A espada é reta, afiada e possui dois gumes, ambos afiados. Ela possui um cabo, onde o espadachim a segura e esse cabo é separado do fio-de-corte por um guarda-mão, que geralmente cruza a espada transversalmente.

A espada, quando sabiamente manejada, serve para cortar o que deve ser cortado e defender o que deve ser defendido.

Possui dois gumes. A justiça possui sempre dois lados: o acusado e o acusador. Daí também surge outro símbolo, o da balança.

Quando a espada ou a balança pendem para um lado, esse lado torna-se culpado. A espada pune o que deve ser punido. Isso, quando a justiça é bem aplicada. Porém, se for mal aplicada, a balança pode vir a pender para o lado errado, ou a espada pode vir a cortar o que não deveria ser cortado.

Quando isso acontece?

Acontece quando faltam informações relacionadas ao caso em julgamento. Quando se desconhece fatos que auxiliariam a se fazer justiça de verdade. Pois, nesse caso em que a espada corta o que não deve ser cortado, o que ocorre é injustiça: o lado que já foi penalizado está sendo penalizado novamente.

Afinal de contas, o que é justiça? É aquilo que é justo. O que é justo? É aquilo que serve, que cabe. Tudo aquilo que serve, que cabe, que é justo, ou seja, que encaixa de maneira perfeita, então, é justiça. Desde uma roupa que, ao se experimentar, ajusta-se perfeitamente ao corpo, até conquistar uma posição de autoridade, desde que com merecimento (ou com justiça ou justeza), ou até ao se aplicar uma sentença. Justiça é aquilo que é justo, que serve, que cabe, a alguma coisa ou a alguém.

Poderia-se dizer que, duas peças que se encaixam entre si, são justas. Ou seja, foram feitas para serem encaixadas, e podem ser encaixadas, servindo-lhe aos seus propósitos.

A sensação de injustiça ou de estranheza a uma situação se dá quando intimamente sentimos aquilo não ser justo, não ser adequado. E muitas vezes essa sensação está correta.

Essa sensação de injustiça também pode surgir em áreas menos comuns em que esse conceito é aplicado. Por exemplo, quando se sente que deveria estar fazendo algo diferente do que se faz no tempo presente. Também é uma situação de injustiça: você não está ajustado a essa tarefa. Suas habilidades, sua experiência, sua inspiração, formam em você um “encaixe”, digamos assim, que não cabe na sua atividade.

Não esclarecemos quem é o culpado dessa situação. Na verdade, esclarecer isso não é assim tão relevante. O que é sim, relevante, é que percebamos esse estado das coisas, essa injustiça, e atuemos em prol da nossa própria justiça. Nós sabemos o que é justo para nós? O que nos cabe, o que serve para nós? Precisamos saber o que é justo, ou por outro lado, precisamos saber como é o nosso “formato” (utilizando novamente a alegoria das peças de encaixe), para que procuremos mais eficientemente onde e como nos encaixaremos, alcançando assim, dessa forma, justiça pessoal.

Muitas vezes achamos que, com o tempo, iremos nos amoldar à nossa volta… que iremos, com o hábito e aquele conceito de “água mole em pedra dura” iremos nos desbastando pouco a pouco até nos encaixarmos em determinada situação. Embora esse método às vezes funcione, muitas vezes não funciona e, se funciona, leva MUITO tempo… e muita DOR. Nesse “desbastamento” de nós mesmos, de nossas habilidades, de nossas necessidades, vamos perdendo muitas vezes nossas próprias características, nossas partes mais preciosas. Vamos deixando de ser quem realmente somos. Vamos nos tornando seres apáticos, sem vontade, sem vida, sem autenticidade, sem originalidade, sem espírito! Quando, na verdade, todas as circunstâncias nos apontavam em direção totalmente oposta; apontavam na direção da mudança! Da coragem! Da atitude!

Quantas vezes não nos acovardamos perante mudanças gigantescas nas nossas vidas?

Quantas vezes não projetamos medos diante do nosso caminho que, quando transpostos, não passavam de obstáculos muito menores?

Sinto que temos de ser mais corajosos perante as dificuldades, perante as injustiças, não somente aquelas que fazem conosco (que vem de “fora”), mas principalmente com aquelas que nós fazemos conosco (que vem de “dentro”)!

Façamos justiça com nossas próprias vidas, já que nesse campo nós mesmos somos nossos mais diretos juízes. Julgamos e atuamos diretamente sobre nossas atividades e nosso viver, momento a momento. Que nós tenhamos força, equilíbrio, vontade, para mudar o que temos de mudar! E há TANTO que podemos mudar! É no julgamento de que há algo imutável em nós que reside a perda da justiça, e consequentemente, da felicidade! Como está escrito em um antigo templo na Grécia, “Conhece-te a ti mesmo!”

Que a espada da Lei Divina, que está alegoricamente em nossas mãos, sendo aplicada na nossa própria vida, seja empunhada com sabedoria, certeza e justeza!

Força, Fé e Amor!

Saravá!

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Crédito da imagem: Kanatayak

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